Ao chegar a Toritama, fomos direto ao Parque das Feiras, à procura de alguém que nos falasse sobre a impressionante expansão do empreendimento. Perguntando aos funcionários do parque, chegamos a uma sala nos fundos, onde havia duas maquetes do projeto de expansão. Falamos com Mayara, que faz o atendimento de lojistas interessados em alugar ou comprar um espaço na nova etapa. Conversamos um pouco com ela, que nos levou à sala de Silva, síndico do Parque das Feiras. É ele o maior responsável pela expansão do lugar. Fomos recebidos em sua sala. Ele nos serviu um expresso e nos contou as histórias da Toritama que deu certo, ao lado de sua assistente. Silva tem todos os números de crescimento e potencial da cidade na ponta da língua e acredita que Toritama ainda será um centro de compras regional ainda mais importante, e que o comércio não ficará restrito ao jeans, mas será ampliado para vários itens. Ele citou como um dos cases de sucesso de Toritama a história de Kelma Lima Lingerie:
Depois do almoço, saímos para observar o movimento do hospital municipal e do hospital de campanha. Paramos do outro lado da rua, em frente ao hospital que fica na avenida principal da cidade, e conhecemos Aline. Ela trabalha numa banca de jogo da empresa Monte Carlo, bem em frente ao hospital de campanha. Seu filho Gustavo, de 5 anos, também estava lá, tomando um açaí. Ele foi a primeira criança a pegar covid em Toritama. O caso foi grave. Ele teve sintomas estranhos, que foram agravando com o tempo. Ele foi internado no hospital municipal, depois transferido para Caruaru. O caso se agravou ainda mais, e ele foi transferido para Recife, onde finalmente começou a melhorar. O caso dele chamou a atenção por ser tão jovem e ter tido sintomas muito graves. Segundo a mãe, o menino quase morreu e depois de curado ficou com sequelas: a imunidade baixa, qualquer coisa fica doente, e também desenvolveu algumas alergias e problemas de pele.
Depois, fomos até a Zona Rural, interessadas em observar a expansão da cidade. Passamos pelo Arenal, bairro onde mora Franciele, personagem do filme Estou me guardando… O bairro está diferente: há muitas casas, facções, lojas e lavanderias novas. A pequena estrada de terra foi calçada. Mudou tanto que não percebemos que já estávamos na zona rural, quando avistamos a casa de Rayane, personagem do filme "Estou me guardando pra quando o carnaval chegar". Conversamos com Rayane, que casou e teve sua primeira filha na pandemia. Quando perguntamos como está a produção, ela reclama que o movimento caiu muito. Lá também estavam, trabalhando, seu marido, sua irmã e sua tia, que também aparecem no filme. Só a galinha Sarajane que não estava mais lá "ah, Sarajane a gente comeu… Virou galinhada". Riram muito do nome que Marcelo deu à galinha e se divertiram contando sobre os comentários das pessoas sobre a participação delas no filme. Elas contam que o volume de peças para costurar está muito menor, e como ganham por quantidade, trabalhar com poucas peças torna o negócio inviável. Trabalhar com jeans só vale a pena se você trabalhar muito. Pergunto se não dá pra aumentar o preço da mão de obra, negociar com os clientes (os patrões), mas elas dizem que não é uma possibilidade. Os patrões reclamam que tudo subiu, o tecido, a linha, a energia, e não dá pra repassar tudo pro lojista. Rayane e sua irmã estão sem saber o que vai ser do futuro, e esperando que volte o auxílio.
De volta ao centro de Toritama, encontramos casualmente Adevane, também personagem do filme Estou me guardando. Ela nos contou que a facção fechou, porque não tinha movimento. Ela teve que fazer uma cirurgia na barriga e não podia fazer esforço. Isso também dificultou muito o trabalho. Depois de fechar a facção, ela abriu um salão de beleza, no mesmo local. A placa ainda está lá, mas não funciona mais. Também não deu certo. Com a pandemia está tudo muito ruim e ela não vê chances de melhorar. Pergunto como está fazendo para pagar as contas, e ela diz que está vivendo da aposentadoria da mãe.
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