LOCAÇÕES/CENÁRIOS
A FEIRA
A feira de Toritama se expande para além do Parque da Feiras - centro de compras privado - e ocupa as ruas públicas do entorno, com lojas varejistas, shoppings e bancas de feira dos dois lados da BR. Há muita concorrência e a ocupação do espaço se expande de forma orgânica e desordenada. O principal produto da feira é o jeans, mas é possível encontrar vestuário de todo tipo na feira, incluindo acessórios, moda íntima, moda evangélica, entre outros artigos. Há muitos lojistas e feirantes de Toritama na feira, mas também muita gente que produz nas cidades vizinhas vem vender sua mercadoria aqui: Vertentes, Surubim, Nova Jerusalém, Catende, etc. Na época em que filmamos "Estou me guardando pra quando o carnaval chegar", a feira começava pontualmente às 18h. Com a pandemia, a feira ficou proibida durante mais ou menos 3 meses e, quando voltou, passou a funcionar em novo horário: das 14 às 22h. Na segunda etapa da pesquisa de campo, o horário mudou novamente, por conta de restrições de horário: passou a funcionar das 8 às 17h. Aparentemente, as pessoas se adaptaram rapidamente às mudanças.
O PARQUE DAS FEIRAS
O Parque das Feiras está em franca ampliação (a ideia é triplicar de tamanho) e as antigas bancas de madeira e ferro estão sendo substituídas pouco a pouco por bancas fixas de cimento. Os limites entre o que é privado e o que é público estão ficando mais difíceis de entender e parte dos lojistas se ressente das mudanças. Na parte interna do Parque das Feiras, a terceira e nova etapa tem a aparência de um shopping de alto padrão, com escadas rolantes, lojas de grandes marcas locais e praça de alimentação. Ainda há muitas lojas com placas de vende-se e aluga-se. Um estacionamento foi aberto na parte de trás do shopping e outras estruturas estão em obras como um hotel e um edifício garagem. Abaixo do Shopping, em uma espécie de subsolo, ficam algumas das novas bancas de cimento, onde os moradores e moradoras de Toritama vendem sua produção semanal. “As vendas estão muito fracas, mas tem que ir pra feira de todo jeito. O que vier é lucro, porque de todo jeito você tem que pagar as despesas.” Dizem alguns feirantes com quem conversamos.
Ao lado do Parque das Feiras, há um stand de vendas do novo empreendimento de Santa Cruz do Capibaribe, cujo garoto-propaganda é o apresentador de televisão Ratinho. Os vendedores me abordaram na rua e me perguntaram se eu estava interessada em comprar uma loja. O sotaque me chamou a atenção. Eram uma mulher de mais ou menos 60 anos e um homem com cerca de 40 anos, ambos do Mato Grosso. Disseram que estão pensando em se mudar para Toritama porque lá no Centro-Oeste o comércio está parado e aqui não falta trabalho.
A CIDADE EM EXPANSÃO
Chama a atenção o crescimento acelerado da cidade de Toritama em comparação a 3 anos atrás. Em plena pandemia, a continuidade das obras sugere que a crise econômica não chegou por aqui. Com o progresso e a expansão da cidade, espera-se que cheguem mais imigrantes, com mais dinheiro ou força de trabalho. Quantas destas obras serão novos negócios? Quais histórias estão por trás das novas casas em construção?
RUAS DE TORITAMA
O movimento observado nas ruas de Toritama nos fazem esquecer que estamos vivendo uma pandemia. Não só pela ausência de pessoas de máscara, mas pelo movimento intenso de pessoas trabalhando na produção de jeans. Pessoas trabalhando em facções a portas abertas, resíduos de tecidos nas ruas, caminhões descarregando tecidos, motos abarrotadas de jeans circulando pela cidade, toyotas levando e trazendo pessoas das cidades vizinhas. A única ausência na cidade é dos bares abertos e aglomerações de pessoas à noite. Foi a única atividade que realmente diminuiu.
VILA CANAÃ
Toritama fica vizinha a Caruaru. A divisa entre as duas cidades é o Rio Capibaribe. Então, quando você vem de Caruaru e passa sobre a ponte, você chegou a Toritama. A Vila Canaã nasceu como um bairro da periferia de Toritama, localizado antes da ponte. Quem mora ali se considera de Toritama, mas o território está oficialmente sob responsabilidade de Caruaru. Na prática, a Vila Canaã é um lugar esquecido pelas prefeituras de Toritama e Caruaru. E só quem aparece por lá é a igreja evangélica. É na Vila Canaã que moram alguns dos personagens mais importantes do filme "Estou me guardando..." como Dona Maria, Mikael, Isabele, Romário, Adalgisa e Canário.
O CINEMA
Toritama é uma cidade com pouquíssimas opções de lazer e essa é uma das principais queixas dos moradores e moradoras daqui. O que pouca gente sabe é que a cidade tem um cinema. O Cine Aurélio é um cinema com capacidade para 100 pessoas, cadeiras acolchoadas e confortáveis, sistema de som, ventiladores e uma tela bem grande. A única sala de cinema de Toritama foi inteiramente idealizada e construída pelo pedreiro Zé Aurélio, que levou 7 anos tocando ele mesmo a obra, com alguns poucos ajudantes. O nome é homenagem ao pai, de mesmo nome que ele. Quem ajuda a fazer o cinema funcionar é seu neto Eric, um adolescente que herdou do avô a paixão pelos filmes. Em 2019, quando "Estou me guardando para quando o carnaval chegar" foi lançado nos cinemas de todo o Brasil, estreou também no Cine Aurélio, e foi um sucesso de público como há muito tempo não se via.